quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

"Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas" Por: Caio Cesar


Hoje, nós temos um post especial. Geralmente, somos nós administradores que elaboramos o que será publicado, mas teremos uma participação mais que especial, nesse post ao qual vocês lerão. Eu convidei meu amigo Caio César, historiador igual a nós do Cinema e Cultura, e depois de muito tempo, ele aceitou o convite e nos brindou com suas ótimas idéias. Divirtam-se, reflitam, comentem o que ele escreveu.

“Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas, do qual ninguém faz realmente ideia” Jostein Gaarder

Quando pensamos em contos de fadas nossa memória aponta-nos fadas, duentes, princesas e príncipes, tudo o que pertencente ao fabuloso, no qual são refletidas experiências irracionais que nos distanciam da realidade. Quantas vezes escutamos e proferimos que contos de fadas é coisa de menininha, balela para crianças dormirem? E se te digo que todas essas concepções partem de reflexões preconceituosas? Então meus caros acomodem-se porque, se mundo cairá, ou melhor, florescerá realísticamente pelo fabuloso.

Brincadeiras à parte, o Cinema e Cultura buscará trazer a vocês um novo olhar para os contos de fadas que povoam nossas infâncias.

Os Contos de fadas sempre estiveram presentes e vivos na sétima arte. As produções em desenho animado da Walt Disney os eternizaram, contudo contribui para a visão distorcida e eufemizada dos seus conteúdos, ou como dizem sua “moral da história”.

Segundo o historiador Robert Darnton[1] em seu livro “O grande Massacre de gatos”, os contos de fadas não eram voltados para o publico infanto-juvenil, mas para os adultos refletirem seus costumes e comportamentos enquanto sujeitos na sociedade. O trabalho de Darnton é o que nós historiadores classificamos de “História das Mentalidades”, ou seja, ele buscou estudar o que os franceses do século XVIII pensavam  sobre si e sua sociedade, e como esse pensar era construído e difundido. Por conseguinte, os contos eram utilizados no intuito de reflexão das dificuldades, perigos e mazelas da vida cotidiana, de forma a consistirem na busca de afago. O “velhaco”, as pessoas espertas e astutas são exaltadas e postas como modelos.

Destarte, trouxemos três filmes para analisarmos. Há uma lista rica de filmes de contos de fadas, mas vamos as nossas escolhas.


#Espelho, Espelho Meu (2012)
O filme é estonteante pelo figurino rico e detalhado, bem como o cenário que traz toda austeridade fabulosa. Com direção de  Tarsem Singh, roteiro de Melissa Wallack e Jason Keller, a produção faz uma releitura divertida e gostosa do conto de fadas mais famoso “Branca de Neve e o sete anões”.
E como não se encantar com a madrasta má Julia Roberts, nossa eterna “linda mulher”.


#Branca de Neve e o Caçador (2012)
Branca de Neve e o Caçador é o primeiro longa metragem do então diretor de publicidade Rupert Sanders. O filme absorve bem a atmosfera medieval, e os efeitos especiais dá a produção os ares fabulosos dos contos de fada.
Charlize Théron rouba a cena como a Rainha Má. Não sei vocês, mas tive em diversos momentos a sensação de que Edward Cullen ou Jacob Black apareceriam a qualquer momento para salvar Kristen Stewart. 


#A Garota da Capa Vermelha (2011)
Catherine Hardwicke mergulhou na versão original dos irmãos Grimm, bem como no imaginário medieval e seus medos. 
Billy Burke, Julie Christie e Gary Oldman estrelam o filme. Amanda Seyfrid estava linda como a doce garota de capa vermelha.

No imaginário dos homens e mulheres do medievo esses contos transmitiam significados ao seu cotidiano. A madrasta, segundo Darnton é figura marcante naquela sociedade, no qual as mulheres morriam no parto devido à falta de higiene e conhecimento médico. Branca de Neve também é um alerta aos perigos da vaidade e frivolidades. Em chapeuzinho vermelho Darnton analisa a prática canibalesca da população pobre medieval, chegando a heroína comer a carne e beber o sangue de sua avô. Outra abordagem se dá pela passagem da vida adulta feminina, sua natureza sexual e seu papel social embutida nos contos.

A pergunta que lançamos: o que essas releituras dos contos de fadas querem falar à sociedade contemporânea? Até que ponto reflete o pensamento ou o querem construir?

Uma das direções que apontamos é a marca de que nossas heroínas não mais esperam o Príncipe Encantado para salvá-las, seria uma característica da mulher moderna? Bem como o destaque dado aos vilões levando-nos a uma possível compreensão da natureza de suas almas. Por que as vilãs estão na moda?

Os contos nada mais são do que fruto da construção humana, do homem que é filho do seu tempo. Nossa reflexão não buscou caracterizar as produções recentes como tendenciosas à falta de roteiros criativos, mas sim tentamos simploriamente trazer uma visão voltada a ver o homem hoje através do cinema, como o fez Robert Darnton.










[1] http://history.fas.harvard.edu/people/faculty/darnton.php

2 comentários:

  1. muito bom o texto, senhor historiador. Está de parabéns. Sem dúvidas que essas releituras sanam as nossas expectativas do tempo presente. Não somos mais princesas a espera de um príncipe, nada mais lógico que os contos de hoje em dia mostrem as mulheres fortes que estão sendo formadas nessa nova sociedade. Ótima análise :)

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  2. Adorei o texto e análise dos filmes. Foi ótimo ressaltar que as originais dos irmãos Grimm nos dão um ar um tanto quanto metafórico da nossa própria realidade. Sendo assim, adorei essa retórica da vilania existente nas versões contemporâneas.

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