quinta-feira, 25 de julho de 2013

Você precisa conhecer: Era uma vez eu, Verônica.


Nossa protagonista Verônica (Hermila Guedes) é recém-formada em Medicina e residente de psiquiatria num hospital público da capital pernambucana. Como boa parte da classe média que prosperou, Verônica contempla o paraíso pela frente: concluiu a faculdade, tem um emprego estável, uma casa própria que divide com o pai. Por que Verônica parece então tão insatisfeita com esse futuro de mar morno é a questão que o filme coloca ao espectador.

Era uma vez eu, Verônica traz a abordagem (pouco freqüente no cinema brasileiro) das vivências subjetivas de uma personagem sobre a qual o filme se debruça. A escolha do roteiro foi a de uma recém-formada médica de Recife, cidade natal do diretor Marcelo Gomes - que já assinou Cinema, aspirinas e urubus em 2005 e, em co-direção com Karim Aïnouz, Viajo porque preciso, volto porque te amo. Este último, lançado em 2009, acabou por se concretizar no formato da chamada “câmera subjetiva” levada ao extremo, oferecendo ao espectador apenas o que os olhos do personagem viam (ou filmavam), sem mostrá-lo de modo objetivo, dando-nos acesso apenas à sua voz, pensamentos, observações...·.


Câmera subjetiva não é o recurso narrativo de Era uma vez eu, Verônica, mas temos a voz em off da personagem explicitando seus pensamentos e reflexões, muitas vezes paralelamente à ação que se vê na tela. Em uma breve cena em que ela está tentando atender uma paciente silenciosa e chorosa, escutamos: “Diga alguma coisa para consolar essa mulher, Verônica!” - exemplo do que é oferecido ao espectador sobre o que a médica está sentindo/pensando.

Mas o que é que a Dra. Verônica pensa sobre ela mesma? Dentre outras coisas, que não é “romântica”; que tem interesse por sexo, mas não sente amor; e até mesmo que usa o sexo como válvula de escape quando as coisas não vão bem para ela. E acima de tudo, o roteiro (também assinado pelo diretor) faz Verônica nos dizer mais de uma vez do seu sentimento de “vazio”.

Verônica, volta e meia, reflete sobre si mesma como se fosse uma paciente sua, detendo-se entretanto em uma forma descritiva, vaga que seja – e como não poderia deixar de ser? – de seu "vazio" pessoal. Quando atende uma paciente com sensações muito similares às suas, quebra a barreira médico-paciente, e diz, emocionada, que sabe “mesmo” como a outra se sente. E é vista levando a paciente em casa, no seu próprio carro. Decididamente, a Dra. Verônica precisaria de uma supervisão, tal a ingenuidade das atuações profissionais em que é vista. Nada contra uma personagem algo ingênua, ainda jovem na atividade e ainda pouco experiente e despreparada: mas o desenvolvimento (ou não-desenvolvimento) no arco da personagem vai se mostrar pouco verossímil e refém de uma dramaturgia... vazia na construção ficcional.


(Trailer oficial do filme)

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